Em 1981 as principais manchetes foram estas:

AIDS, de ‘doença de gays’ a mal do século

João Paulo II é gravemente ferido

Egito em estado de emergência

Bomba explode dentro do Governo

Greve de fome muda a face do IRA

A princesa dos sonhos ingleses

Os socialistas chegam ao poder

O Brasil volta ao topo da Fórmula-1

Um computador em cada casa

Reggae perde seu porta-bandeira

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1981

AIDS, de ‘doença de gays’ a mal do século

Em 5 de julho de 1981, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), uma espécie de radar mundial de novas doenças, anunciou o descobrimento de uma estranha infecção que afetava cinco homossexuais americanos. A principio, os médicos pensaram se tratar de uma infecção rara, sem importância para a população em geral. Estavam enganados. Aqueles eram os primeiros casos identificados de AIDS, doença que rapidamente se transformou na praga do século.

Na época, não se podia saber disso, mas 1981 marcou o século XX como o ano da descoberta de uma das piores doenças que a humanidade já enfrentou. Nos anos seguintes, começou uma guerra bilionária contra um inimigo microscópico, que ainda esta longe de ser vencido.

Quase 12 milhões de pessoas já morreram desde aquele ano e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que haja pelo menos 30 milhões de infectados no mundo—cerca de 500 mil deles no Brasil. A cada dia, 16 mil pessoas contraem o vírus HIV e 1.200 crianças morrem do mal. Na virada do século, 40 milhões de pessoas terão o vírus.

Quando Alexander Fleming descobriu a penicilina, em 1928, o mundo mergulhou numa era de euforia. Inimigos até então imbatíveis, como tuberculose, difteria e pneumonia, caíram frente ao exército dos antibióticos. Durante quase cinco décadas, muita gente acreditou que as doenças infecciosas não eram mais tão temíveis— pelo menos não nos países industrializados, que podiam pagar pelos tratamentos. A AIDS mostrou que era cedo para festa e trouxe a reboque, com poder revigorado, doenças antes sob controle, como a tuberculose.

As infecções que se aproveitam do desastre imunológico provocado pelo vírus HIV—este só descoberto em 1983 pelo imunologista francês Luc Montagnier—compõem um dos maiores desafios de saúde já enfrentados pela Humanidade. Mais do que qualquer outro mal, a AIDS teve profundas implicações no comportamento, por ser transmitida pelo sexo. Hoje, devido a AIDS, prazer só não basta. O sexo tem que ser seguro.

Como as primeiras vítimas da doença eram homossexuais, em seu início a epidemia foi chamada pejorativamente de câncer gay. Em pouco tempo, porém, apareceram casos de hemofílicos. Por dependerem constantemente de doações de sangue, eles se tornaram vulneráveis e milhares—como os irmãos Henfil e Betinho no Brasil—foram contaminados antes que os bancos de sangue passassem a fazer testes de detecção do HIV.

A associação à promiscuidade sexual e ao homossexualismo custou caro às pessoas com AIDS, que tiveram de enfrentar também um enorme onda de preconceito. Mas a morte de pessoas famosas—como Rock Hudson, Fred Mercury e Michel Foucault—e a grande velocidade de propagação da epidemia acabaram obrigando até mesmo os setores mais conservadores da sociedade, como a Igreja católica, a encararem o problema.

Muito se especulou sobre sua origem, até agora incerta. Houve quem dissesse que era um vírus criado para ser arma biológica que escapara de algum laboratório secreto; para outros era um micróbio alterado transmitido pela vacinação contra a pólio na África. Moralistas acreditaram ser um castigo divino. A teoria cientifica mais recente e com maior aceitação aposta na hipótese de o HIV ser um vírus originário de macacos africanos que, por algum motivo, passou a infectar seres humanos. Cientistas isolaram o vírus no sangue de um homem morto em 1959, no então Congo Belga (atual Republica Democrática do Congo). Esse homem, porém, não deve ter sido o primeiro a ter AIDS. Este seria um africano anônimo cujo nome jamais será descoberto.

A morte de Rock Hudson, em 2 de outubro de 1985, foi emblemática por mostrar que ricos e famosos não estavam a salvo. Começaram nessa época os grandes esforços internacionais contra o HIV. Hudson foi o primeiro de uma lista de celebridades que morreram de AIDS. No Brasil, onde os primeiros casos foram identificados em 1982, o HIV levou Cazuza, Lauro Corona, o trapalhão Zacarias, Leon Hirzman e Renato Russo, entre outros.

Nenhuma outra doença, nem mesmo o câncer e as doenças cardíacas, principais motivos de morte no mundo, recebeu tanta atenção quanto a AIDS. Ela virou tema de filmes— Tom Hanks ganhou o Oscar de melhor ator por interpretar um jovem executivo morrendo de AIDS em "Filadélfia"—peças e livros.

Em meados da década de 80, a AIDS já não era mais um mal de guetos. Tinha se tornado uma epidemia global que não poupava as populações de EUA e Europa, livre de outros flagelos que matam milhões no Terceiro Mundo como a malária. Grupos de risco deixaram de existir e a principal via de contagio se tornou a relação heterossexual. A epidemia se alastra entre as mulheres, principalmente as que não tem acesso a informação e meios de prevenção. Estas transmitem o HIV para seus filhos.

Hoje quase 20 anos depois do alerta do CDC, ter AIDS não e mais sinônimo de morte certa, ao menos não para quem pode pagar. Novos medicamentos, no mercado desde 1996, tem prolongado a vida dos portadores do HIV e tornado a infecção uma doença crônica. O tempo de sobrevida aumentou de meses para mais de dez anos. O problema é que essas drogas são caras. Por ano o tratamento não sai por menos de US$ 10 mil, quantia que poucos podem pagar.

Poucos países, entre eles o Brasil, distribuem medicamentos, e ainda assim o acesso é limitado. Nos países africanos, onde estão 80% das pessoas com AIDS, essas drogas são um sonho impossível. Governos que empregam menos de US$ 10 anualmente por habitante não podem se dar o luxo de gastar dinheiro com a cara terapia anti-Aids.

No fim do século, a AIDS começa a mostrar uma face ainda mais cruel. Ela promove o que a OMS chama de holocausto demográfico, aumentando o abismo entre ricos e pobres. Trinta e quatro países, entre eles o Brasil, terão seu crescimento populacional reduzido nas duas primeiras décadas do século XXI devido a AIDS. No país mais afetado do mundo Botswana, 25% da população tem AIDS e a expectativa de vida caiu de 61 para 39 anos desde 1992.

Porém, o HIV reduziu seu ritmo de propagação nos países industrializados, e mesmo em classes sociais elevadas da América Latina, devido a campanhas preventivas. A AIDS começa a voltar a ser uma doença de pobres, trazendo o temor de que o empenho dos países ricos em combatê-la seja menor nos próximos anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

João Paulo II é gravemente ferido

Na tarde de 13 de maio de 1981, quando percorria lentamente a Praça de São Pedro, em Roma, num veículo aberto, abençoando uma multidão de fiéis, o Papa João Paulo II, de quase 61 anos, foi atingido por três tiros disparados a poucos metros de distância pelo turco Mehmet Ali Agea, de 23. Karol Woityla caiu com a mão no ventre e o veículo arrancou em direção a uma ambulância, enquanto a polícia prendia o atirador. Duas mulheres que estavam próximas a João Paulo II foram feridas, uma no peito e outra no braço. O chefe da Igreja católica foi submetido a uma cirurgia e passou 22 dias internado. Liberado pelos médicos, teve de voltar ao hospital no dia 20 de junho, ficando internado por mais dois meses.

Em seu depoimento ao tribunal, Ali Agca disse que teria recebido a proposta de matar o Papa—em troca de US$ 1,5 milhão—quando estava no presídio turco de Kartal Maltepe, onde aguardava julgamento pelo assassinato de um jornalista social-democrata, crime pelo qual provavelmente seria condenado a pena de morte. Dois anos antes, na visita do Papa à Turquia, ele havia prometido, em carta a um jornal, matar o "comandante das cruzadas". A fuga da prisão teria sido organizada por traficantes de armas e drogas numa conexão com a Bulgária, para onde Agca seguiu, acompanhado de Oral Celik, integrante do grupo ultradireitista Lobos Cinzentos e ligado ao serviço secreto búlgaro. Mesmo procurado pela Interpol, Ali Agca viajou pela Europa com documentos falsos até se instalar numa pensão próxima a Santa Sé, onde ele e Celik acertaram os detalhes do plano.

Condenado a prisão perpétua pela Justiça italiana, em julho de 1981, Agca implicou o serviço secreto búlgaro e o governo soviético como articuladores do crime. As críticas do Papa ao regime comunista polonês teriam sido a causa do complô internacional para matá-lo, mas isso nunca ficou provado. Apontados como cúmplices, foram presos o chefe da Balcan Airlines (empresa aérea búlgara) em Roma, Serguei Ivanov, e dois funcionários da embaixada da Bulgária, todos liberados mais tarde por falta de provas.

Em 1994, uma nova versão para o caso surgiu com o aparecimento de Oral Celik, que procurou a Justiça italiana para denunciar a própria cúpula do Vaticano como responsável pelo atentado. Em troca de tratamento de arrependido—que incluía regalias como prisão domiciliar, guarda costas e documentos para começar nova vida—Celik se dispôs a revelar todo o plano. Segundo ele, a intenção da alta hierarquia da Igreja não seria matar, mas apenas ferir o Papa. Seu depoimento, porém, não mereceu crédito. Em 1994, a imprensa discutiu essa hipótese no rasto de uma série de escândalos financeiros, mortes misteriosas e disputa pelo poder envolvendo homens da cúpula eclesiástica—sobretudo o cardeal americano Paul Marcinkus, presidente do Instituto de Obras Religiosas (o chamado Banco do Vaticano) e desafeto do falecido João Paulo I. Mas tudo ficou no terreno das especulações. Se o atentado a João Paulo II foi obra de uns poucos desequilibrados ou de um sofisticado complô internacional, até hoje não se sabe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Egito em estado de emergência

No dia 6 de outubro de 1981, o presidente do Egito, Anwar Sadat, assistia a uma parada militar no Cairo, lembrando o início da Guerra do Yom Kippur, quando quatro homens saltaram de um carro blindado e dispararam suas armas automáticas, além de lançarem granadas contra o palanque oficial. Sadat ergueu-se da cadeira e tombou em seguida, atingido por cinco tiros. Poucas horas depois, morria, num hospital do Cairo, o homem que três anos antes havia assinado dois importantes acordos com Israel em Camp David, passos importantes para a paz entre os dois países.

O atentado matou mais duas pessoas que estavam no palanque e deixou várias feridas, entre elas o vice presidente Hosni Mubarak e enviados estrangeiros. Logo em seguida foi declarado estado de emergência e tropas ocuparam as ruas da capital para evitar uma tentativa de golpe, mas não houve movimento nesse sentido. Mubarak assumiu o governo, declarando que manteria todos os tratados firmados pelo país, inclusive o acordo de paz com Israel conduzido por Sadat, que indignara parte do mundo árabe.

Um grupo apoiado pela Líbia reivindicou o atentado: a Frente para a Libertação do Egito Árabe, liderada pelo general Suadeddin Shazli, chefe do Estado-Maior egípcio, que entrara em choque com Sadat quando o presidente decidiu interromper o avanço das tropas no Sinai. Mesmo assim, não ficaram livres de suspeitas os extremistas islâmicos de grupos como a Irmandade Muçulmana, severamente reprimidos por Sadat, e as investigações apontariam afinal para o grupo Jidah (Guerra Santa). Em abril de 1982, dois militares e três civis foram executados como principais responsáveis pelo atentado. Outros 17 envolvidos acabaram condenados a prisão perpétua e 12 pessoas a penas entre 5 e 15 anos. Em 1984, mais 94 acusados foram condenados a variadas penas de prisão, 16 deles pelo resto da vida.

A aproximação entre Sadat e Israel era vista com desconfiança por muitos egípcios, que acusavam de traição à causa palestina. Um mês antes do atentado, o presidente ordenara a prisão de 1.300 opositores. Seu Governo fora marcado também pela diversificação da economia e pelo afastamento da URSS, que Sadat achava não Ihe dar o apoio militar necessário —em 1972, os assessores soviéticos tinham sido expulsos do país. Depois de sua morte cresceu a ameaça dos fundamentalistas, que, em 1990, iriam assassinar também o presidente do Parlamento, Raffat Mahqub.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Bomba explode dentro do Governo

Na noite de 30 de abril de 1981, mais de dez mil pessoas assistiam a um show comemorativo do Dia do Trabalhador no pavilhão de convenções Riocentro, no Rio de Janeiro, quando uma bomba explodiu dentro de um Puma de placa fria no estacionamento. A explosão matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que estava no banco do carona, e feriu gravemente o capitão Wilson Luís Chaves Machado, na direção. Ambos pertenciam ao órgão militar de informações DOI-Codi, do I Exército. Dez minutos depois, outra bomba explodiu na casa de força do Riocentro, sem causar vítimas ou danos maiores.

O corpo do sargento, que segurava a bomba no colo ficou mutilado, enquanto o capitão, com o braço direito dilacerado e as vísceras expostas, foi socorrido por Andreia Neves (neta do então senador Tancredo Neves) e o namorado dela. Imediatamente, o comandante do I Exército, general Gentil Marcondes Filho, saiu em defesa de seus homens, afirmando que estavam no Riocentro "em missão de informações". Guilherme do Rosário foi enterrado com honras militares, na presença do general, que também visitou o capitão no hospital. Tentando justiçar a ação, o secretário de Segurança, general Waldir Muniz, disse que um chamado Comando Delta ligara para o Riocentro avisando das explosões uma hora antes. Por isto, os militares teriam seguido para lá. Ao achar a bomba, segundo ele, o sargento a recolheu e ela explodiu.

Quando soube do atentado, o presidente João Figueiredo chegou a afirmar que se fosse uma ação de esquerda não poderia ter sido mais inteligente, mas se tivesse sido feita por gente do Exército teria sido muita burrice. No inquérito policial militar (IPM) encerrado em 1981, o então coronel Job Lorena de Sant'Anna (hoje general da reserva) desprezou provas periciais e concluiu que os dois militares tinham sido vítimas de um atentado promovido por grupos de esquerda (VPR ou MR-8) ou de direita (Comando Delta). A conclusão não convenceu ninguém. A repercussão do caso embaraçou o regime militar. "A bomba explodiu dentro do governo", sintetizou o ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel.

Até o episódio, houvera dezenas de atentados praticados pela direita com o objetivo de bloquear o processo de abertura política. O caso Riocentro foi reaberto em 1999, quando um novo IPM mudou a versão que perdurara por 18 anos. Foram indiciados o coronel Wilson Machado, por homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos), e o general da reserva Newton Cruz, ex-chefe da Agencia Central do SNI, por falso testemunho (pena de dois a seis anos) e desobediência (de um a seis meses).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Greve de fome muda a face do IRA

A longa e violenta luta do Exército Revolucionário Irlandês (IRA) contra o domínio britânico mudou de estratégia em 1981 e causou comoção internacional com o martírio de Robert (Bobby) Sands, um militante de 27 anos que morreu em 5 de maio, 66 dias depois de comera uma greve de fome como forma de reivindicar tratamento de prisioneiros políticos para os integrantes do IRA. Se antes causavam medo atrás de máscaras terroristas, eles passaram a ter uma face humana.

Condenado em 1977 a 14 anos de cadeia por porte de armas, Bobby Sands cumpria a pena na prisão de Maze, em Belfast, na Irlanda do Norte. O rigor de sua punição era pautado no Northen Ireland Act, uma lei de emergência aprovada pelo Parlamento britânico em 1973 e que permitia, entre outros atos, a prisão sem mandado judicial de qualquer suspeito de terrorismo. Dessa forma igualava criminalmente, em alguns casos, os responsáveis por delitos menores, como Sands, a terroristas que mataram varias pessoas. Líder dos prisioneiros, ele reivindicava ainda: o direito de usarem suas próprias roupas (e não uniformes de presidiários), não serem submetidos a trabalhos forcados e poderem ter suas penas comutadas.

As negociações com o Governo britânico haviam começado em dezembro de 1980, quando sete prisioneiros do IKA acabaram com uma greve de fome semelhante em troca de promessas de reforma no sistema carcerário. Como nada foi alterado, Bobby Sands decidiu iniciar seu protesto no dia 1º de marco de 1981. Nem os apelos internacionais abalaram a convicta primeira-ministra Margaret Thatcher: "Crime e crime e não admite qualificativos", afirmou.

Mesmo sem sair da prisão, e já bastante debilitado, Sands foi eleito deputado para a Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha pelos distritos católicos de Fermanagh e Tyrone do Sul. Sua morte gerou manifestações e conflitos em Belfast, Dublin e Londonderry. Uma semana depois de Sands morreu Francis Hughes, o segundo prisioneiro em greve de fome, após 59 dias de abstinência. Outros tomaram seus lugares no protesto suicida: a greve de fome terminou formalmente em outubro, sete meses depois, com um total de dez mortos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

A princesa dos sonhos ingleses

Setecentos milhões de telespectadores acompanharam o arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, fazer os noivos Charles Philip George, príncipe de Gales, herdeiro do trono britânico, e Lady Diana Frances Spencer, professora primaria, prima distante de Charles, darem-se as mãos , e pronunciar: "A quem Deus uniu, nenhum homem pode separar". Na catedral de St. Paul, naquela ensolarada manha londrina de 29 de julho de 1981, três mil ilustres convidados acompanhavam um dos casamento mais badalados de todos os tempos e, do lado de fora, um milhão de plebeus se espremiam pelas estreitas ruas.

Charles, de 32 anos, e Diana, de 19, casaram-se com toda a pompa que a Coroa britânica pode proporcionar. Estavam lá as carruagens reais, um tapete vermelho de 200m, oficiais em uniforme de gala e uma ornamentação que incluía, entre outras flores, 14 mil gerânios. A nova princesa de Gales exibia um vestido de seda com cauda de 8m de comprimento, arrastada por quase 200m na catedral. La dentro, ao som de Benjamin Britten, Haendel e outros compositores, realizava-se pela primeira vez uma cerimonia ecumênica na monarquia inglesa.

A realeza, no entanto, não conseguiu evitar um incidente diplomático com o rei Juan Carlos 1, da Espanha, ao incluir na viagem de lua-de-mel do casal a estada numa região do estreito de Gibraltar, colônia inglesa desde 1911 entre a Espanha e a África. Como a área era Uma antiga reivindicação dos espanhóis, Juan Carlos devolveu o convite em protesto.

O casamento de conto de fadas ajudou os ingleses a esquecer temporariamente a recessão no pais, o desemprego e a mão de ferro da primeira-ministra Margaret Thatcher. A carismática Diana, carinhosamente chamada Lady Di, tornou-se um grande trunfo de marketing da Coroa, ofuscando o marido e toda a família real. Mesmo depois da conturbada separação do casal, em 1992, ela continuou tendo enorme projeção na mídia com suas ações humanitárias. E foi enquanto fugia do foco dos periódicos ingleses que a princesa morreu, num trágico acidente de automóvel em Paris, em 1997, deixando dois filhos adolescentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Os socialistas chegam ao poder

Com 52° dos votos no segundo turno eleitoral, François Mitterrand foi escolhido, em 10 de maio de 1981, o primeiro presidente socialista da Franca, derrotando seu antecessor, o republicano Valery Giscard d'Estaing. A vitória representou uma guinada política no pais, que vinha sendo governado por conservadores desde 1958. Era a terceira vez que Mitterrand se candidatava a Presidência: a primeira fora em 1965, contra o general Charies de Gaulle (que disputava o segundo mandato), e a segunda em 1974, contra o mesmo Giscard d'Estaing, que o derrotou por pouco.

Político hábil e obstinado, Francois Maurice Marie Mitterand teve uma trajetória nada linear. Nascido em Jarnac, Charente, em 26 de outubro de 1916, foi prisioneiro dos alemães durante a Segunda Guerra e chegou a trabalhar para o Governo colaboracionista (dos nazistas) de Vichy antes de aderir a resistência. Secretario-geral para prisioneiros de guerra no Governo De Gaulle, formou-se advogado e elegeu-se deputado em 1946. De 47 a 57, participou de 11 governos sucessivos. Como ministro dos Territórios Ultramarinos (1950-51) e do Interior (1956-57), era responsável pela policia na época das torturas e desaparecimentos de nacionalistas na Argélia, mas em 1958, já antigaullista, foi o primeiro político francês a negociar com lideres africanos que lutavam pela independência das colônias. Presidente da Federação da Esquerda Democrática e Socialista de 65 a 68, só entrou para o PS em 71, sendo eleito primeiro secretario. Na época, os socialistas tinham 5% dos votos.

Mais que um voto socialista. a vitória de Mitterrand refletia um desejo de mudança e um protesto contra o governo autocrático de Giscard d'Estaing. O PS venceu as eleições parlamentares e formou um governo de coalizão com o Partido Comunista até 1984. No primeiro ano de administração Mitterrand estatizou alguns bancos e industrias, aumentou o salário mínimo e os impostos dos ricos, reduziu a semana de trabalho a 39 horas, criou a quinta semana de ferias obrigatórias e milhares de empregos públicos. A recessão forçou-o em seguida a um programa de austeridade que o levaria a perder o apoio comunista. Quando a esquerda deixou de ter maioria parlamentar, em 1986, Mitterrand passou a conviver com um premier neogaullista, Jacques Chirac, mas soube capitalizar sucessos como a queda nos índices de criminalidade.

Foi reeleito em 1988, com os socialistas recuperando o controle da Assembléia Nacional e do gabinete. Enfrentava então um avanço da extrema direita, a Frente Nacional, contraria a presença de imigrantes no pais. Ficaria 14 anos no poder, sendo substituído por Jacques Chirac em 1995. Operado duas vezes de câncer de próstata nos últimos três anos de governo, morreu em 8 de janeiro de 1996, aos 79 anos, em seu apartamento em Paris.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

O Brasil volta ao topo da Fórmula-1

Desde o bicampeonato conquistado por Emerson Fittipaldi em 1974, os torcedores brasileiros esperavam ver novamente um conterrâneo ocupar o lugar mais alto do pódio da Fórmula 1. Em 17 de outubro de 1981—mesmo chegando em quinto lugar no Grande Prêmio de Las Vegas—o carioca Nelson Piquet retribuiu a expectativa: com um ponto a frente do argentino Carlos Reutemann, sagrava-se campeão mundial aos 29 anos.

Criado em Brasília, Nelson Piquet Souto Maior começou a se interessar pelo automobilismo ainda criança, quando participava de corridas de kart, apesar da resistência da família—o pai, Estácio Souto Maior, ministro da Saúde no Governo João Goulart, cassado em 1964, queria que ele fosse tenista. Depois vieram os pegas que fazia com o fusca da irmã nas grandes retas da capital. Bom entendedor de mecânica, foi campeão da categoria Super V na década de 70, antes de seguir para a Europa, onde se destacaria na Fórmula 3.

O brasileiro estava ha três anos na Fórmula 1, tendo estreado na modesta Ensign, no final da temporada de 1978, após ter vencido o campeonato europeu de Fórmula 3. Na Brabham desde 1979, tinha sido vice campeão em 1980. Com o titulo do ano seguinte, pode enfim fazer um contrato decente. Até então, Piquet não tinha salário e ganhava apenas participações em prêmios. Com talento comprovado, passou a ser disputado pelas equipes da F1—além da Ensign e da Brabham, correu por McLaren, Williams, Lotus e Benetton.

O bicampeonato veio dois anos depois e o terceiro titulo mundial, em 1987—quando outro brasileiro, Ayrton Senna, seu desafeto, também disputava titulos levando a torcida a se dividir entre piquetistas e sennistas. Em 1991, decidiu abandonar a F1: tinha participado de 13 temporadas, conquistando 23 vitórias e 24 pole positions. Um ano depois, porem, não resistiu ao convite do amigo Emerson Fittipaldi e foi tentar a sorte na Fórmula Indy nos EUA. Nem mesmo um serio acidente durante os treinos para as 500 milhas de Indianápolis, em maio de 1992, o deixou fora das pistas. Com fraturas múltiplas na parte inferior das pernas e nos pés, teve uma recuperação surpreendente: um ano depois de ser considerado inutilizado para o automobilismo voltou a treinar em Indianápolis.

Famoso por seu jeito critico e debochado, Nelson Piquet virou empresário, administrando negócios em setores variados, de revenda de automóveis a um sistema para controlar o trafego de caminhões via satélite. Mas não conseguiu ficar muito tempo sem disputar uma corrida, agora em caráter de participação especial: em 1996, venceu duas provas da categoria turismo (carros de passeio); em 1997, disputou as 24 horas de Le Mans e o GP de Brasília da F3.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Um computador em cada casa

Nem sempre ganha a corrida quem larga na frente. Quatro anos depois da Apple, sua concorrente direta, a International Business Machines (IBM) lançou em 1981 o PC (Personal Computer), computador que se transformou em padrão internacional, proporcionando a definitiva explosão do mercado de micro-informática. O PC era 100 vezes mais potente e custava 2% do preço do velho IBM modelo 701, a válvula, lançado em 1952. A resposta do publico foi instantânea. Em menos de dois anos, 136 mil maquinas foram vendidas em todo o mundo. Três anos mais tarde, esse numero subia para três milhões.

Num momento em que os fabricantes de microcomputadores proliferavam em garagens e pequenas fabriquetas, a IBM valeu-se de sua liderança mundial no ramo de grandes computadores para fazer vingar o PC como padrão universal. Para isso, foram decisivos os acordos que fechou—coisa inédita na história da empresa—com dois pequenos fabricantes externos: a Intel, que entrava com os microprocessadores, e a Microsoft, fornecedora do sistema operacional.

Em 1983, o gigante azul—apelido que a IBM ganhou devido a cor predominante de seus produtos na década de 70—lançou o Peanut, microcomputador com o dobro da potência de processamento de qualquer outro do mercado. Desenvolvido secretamente num laboratório em Boca Raton, na Flórida, o Peanut (conhecido também como PC Jr.) causou grandes prejuízos aos concorrentes.

Um modelo básico do Peanuts custava inicialmente US$ 669, e uma versão mais sofisticada saia por US$ 1.200. Em dois anos, a IBM abocanhou 26% do mercado de computadores pessoais, úteis como instrumentos de trabalho em escolas, consultórios médicos e empresas de consultoria. A industria de software começou a preparar programas especialmente para os PCs IBM.

Curiosamente, a liderança da IBM no mercado de micros terminou pela mesma razão que começará: a Intel e Microsoft, que não tinham feito um acordo de exclusividade, passaram a vender seus produtos para outras empresas. Em pouco tempo, eram potências—e o mercado estava infestado de clones dos PCs.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1981

Reggae perde seu porta-bandeira

Aos 36 anos, Bob Marley morreu em 11 de maio de 1981, num hospital em Miami. O homem que libertou o reggae das fronteiras jamaicanas e influenciou uma geração de músicos no mundo inteiro sofria ha 18 meses de melanoma, um câncer que começou no cérebro e se espalhou por outros órgãos. Um filho mais moroso do ritmo jamaicano ska, o reggae ganhou com Marley letras engajadas para suas harmonias simples. O resultado foi a trilha da seita rastafari, que pregava a união dos povos negros na África e elegia o imperador Haile Selassie, da Etiópia, como messias. Sem seu principal compositor e porta-bandeira, o reggae nunca mais teria o mesmo impacto.

Os cabelos com trancas que iam até a cintura, a alimentação natural, alem da adoração a maconha e o repudio a Babilônia representando a civilização ocidental e seus valores, eram partes integrantes da seita adotada por Marley. Peter Tosh e Jimmy Cliff, outros nomes importantes do movimento, embarcaram no sucesso de Bob Marley e a banda The Wailers, que o acompanhou em dez discos. A partir de meados dos anos 70, o musico emplacou sucessos como "l shot the sheriff", também famosa na voz de Eric Clapton, "Is this love" e "No woman no cry", gravada por Gilberto Gil em 1978 como "Não chore mais". Marley veio ao Brasil em março de 1980, jogou bola com Chico Buarque, deu entrevista fumando maconha e disse que samba e reggae tinham o mesmo sentimento das raízes africanas.

Seu apoio ao primeiro-ministro jamaicano Michael Manley pode ter sido responsável pelo atentado que sofreu em 1976—para alguns, coisa da CIA, nada contente com Manley e seu governo socialista. Bob Marley levou dois tiros, mas continuou denunciando a pobreza e a desigualdade social, situação que poderia se aplicar aos becos de Kingston, capital da Jamaica, onde cresceu, ou qualquer outra cidade da América Latina ou da África.

Fonte: O Globo - Texto integral