Em 1977 as principais manchetes foram estas:

A época de dançar para não... dançar

Árabes e judeus negociam a paz

Ditador corrupto e antropófago

Polícia massacra líder sul-africano

Diva perdeu a voz, mas não a aura

Linha de ônibus para o espaço

Separação não é o fim do mundo

A vida segundo Woody Allen

Fundado o império de George Lucas

O fascínio de um passado brutal

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1977

A época de dançar para não... dançar

Em 1913, ano em que fui apresentada ao Le Jardin, discoteca da moda em Nova York, alguns jornais ingleses previam que os weeny-boopers da ilha bretã corriam perigo de ficarem surdos, tal era o volume em que a música era tocada nesses locais onde a moçadinha balançava seus esqueletos. Numa tradução livre, weeny-boopers era como os ingleses chamavam os jovens apaixonados por música pop. E isto era o que tocava nas discotecas, de Londres, Paris ou Nova York, nos idos de 1973. Na Le Jardin, o sucesso era "Love Theme", de Barry White, e ainda não haviam rotulado as trilhas dançantes como música disco. Isto só iria acontecer alguns aninhos depois, quando os embalos de sábado à noite se transformaram em febre mundial e Tony Manero lançou John Travolta para o estrelato total.

Mas, desde sempre, todo mundo esperou alguma coisa de um sábado à noite. Os mais abonados esperavam algo toda noite e podiam dançar até cair mesmo nos embalos no turnos dos dias de semana. Alguns até já chegavam nessas bocadas caindo, movidos a downers, que era como chamavam os qualuds tomados em Nova York. A expressão vale também para os mandrix consumidos nessas terras tropicais. Depois do Jardin, a Infinity foi a discoteca da moda em Manhattan. Foi em suas pistas, sons e luzes, que Nelsinho Motta se inspirou para criar o Dancin' Days, que durante três meses abalou o esqueleto do Shopping da Gávea, em 1976.

Nelson foi convidado pela equipe de Sérgio Dourado para criar um agito que chamasse a atenção para o shopping em construção e atraísse compradores para as lojas sendo vendidas ainda na planta. Conseguiu mais do que este intento. Criou um ponto de encontro e diversão para a juventude. Lançou as garçonetes da casa como atração musical. Sacudiu o sono dos moradores da vizinhança. Criou uma marca que acabou batizando a novela de Gilberto Braga, lançada em 1978, e virando lenda. Tudo num breve espaço de tempo.

O discotecário do Dancin' Days era Pelé, também chamado Dom Pepe, figura lendária de Ipanema. Um velho amigo de infância de Nelsinho, que tinha feito sua fama de fera das carrapetas ainda nos anos 60, quando animava a pista da boate Sucata, de Ricardo Amaral, antes de alguns antológicos shows de Jorge Benjor, então apenas Ben, Chico Buarque ou dos heróis da Tropicália. No Dancin', Dom Pepe atacava de Tim Maia a Rolling Stones. Depois da uma da manhã, as garçonetes largavam as bandejas, trocavam de roupa e subiam no palquinho da casa. Viravam as tais Frenéticas, que faziam a rapaziada delirar e dançar mais ainda. Mas o lugar onde funcionava o Dancin' não recebera o tratamento acústico necessário para uma casa do gênero. O baticum incomodava a vizinhança. As reclamações acabaram suspendendo a existência da casa por quase dois anos. Do velho Dancin' Days, as Frenéticas passaram a lotar shows pelo Brasil afora.

Uma boa parte da juventude da Zona Sul ficou na saudade, meio sem ter onde dançar e azarar. No primeiro semestre de 1977, Nelson foi convidado pelos Priolli para transformar o Canecão em danceteria. Para não repetir a fórmula do Dancin', e já pensando numa atração musical fixa para o novo ponto, Nelsinho convidou as jovens atrizes Tânia Alves e Elba Ramalho para serem as crooners da banda Tropicana. Vestidas de rumbeiras, elas se apresentavam à frente de vários instrumentistas da pesada, que formavam a orquestra da nova discoteca. Dom Pepe mais uma vez foi convocado para pilotar as carrapetas. A Tropicana também foi sucesso por um breve período. As Frenéticas, já consagradíssimas, se apresentaram lá e a moçada se acabou de dançar.

No final de 1977, "Os embalos de sábado a noite" foi lançado. O filme produzido por Robert Stigwood e dirigido por John Badham surpreendeu por vários aspectos. Com um orçamento relativamente baixo, foi a terceira bilheteria da industria cinematográfica americana, concorrendo com a força de George Lucas em "Guerra nas Estrelas" e Steven Spielberg com seus "Contatos Imediatos do Terceiro Grau". Só naquele ano, a fita rendeu algo em torno de US$ 125 milhões. John Travolta ganhou o estrelato, com sua primeira indicação para o Oscar de melhor ator.

A trilha sonora do filme, assinada pelos irmãos Gibbs, trouxe os Bee Gees de volta à luz dos refletores. O grupo vendeu mais de 30 milhões de discos. Pelo menos cinco canções da trilha do filme viraram hits insofismáveis. "Stayin' alive", "Night fever", "Disco Inferno", "You should be dancing" e "How deep is your love" pavimentaram o caminho para que o mundo fosse acometido pela febre das discotecas. Os cabelos pompadour, o terno branco, a camisa de poliéster com gola gaivota e o cordão de ouro com medalhão usados por Tony Manero tornaram-se ícones do vestuário dos pré-clubbers do mundo todo.

A dança passou a ser encarada como escapismo para frustrações sociais e econômicas dos jovens mundo afora: milhares se reconheceram no personagem vivido por John Travolta. Como Tony Manero, que na discoteca 2001 Odyssey virava seu próprio patrão, superando os problemas mesquinhos de sua vida de classe média baixa, as brigas com os pais e a falta de perspectivas do seu trabalho como vendedor de uma loja de tintas no Brooklin. Nas pistas ele era um Rei. A mocada do Japão a Paris acreditava no mito e consumia os produtos que Robert Stigwood e seus sócios colocavam no mercado.

Foi cunhada a disco music e as discotecas surgiram em todas cidades do mundo. Aqui não foi diferente. Em 1978, Nelson Motta foi convidado a instalar o Dancin' Days no alto do Morro da Urca. A festa de inauguração quase vira catástrofe, tal o número de pessoas que apareceu com ou sem convite. Vários escalaram a pedra para conseguir dançar. No mesmo ano, em Nova York, o Studio 54, que Steve Rubell lançara pouco antes, alcançou seu pico de fama. Andy Warhol proclamava que num futuro próximo, todos teriam direito a 15 minutos de fama.

O sucesso do Studio 54 durou até o começo dos anos 80. Na discoteca nova-iorquina, não só Warhol dançou. De Bianca Jagger a Robert de Niro, passando pela mãe do ex-presidente Jimmy Carter, todo mundo mandou ver. A festa lá quase acaba num clima de fim de feira, com os donos do Studio processados por sonegação fiscal e trafico de drogas. Aqui, o Dancin' teve uma trajetória menos pesada. Depois de uma temporada bem sucedida, com danças e shows de novos artistas pop, a danceteria virou Noites Cariocas. Continuou fervendo e foi palco de apresentações memoráveis de Lulu Santos, Blitz, Barão Vermelho e Legião Urbana, entre outros astros nativos de ontem, hoje e sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Árabes e judeus negociam a paz

No dia 19 de novembro de 1977, quando o então presidente do Egito, Anwar Sadat, desembarcou em Jerusalém, os israelenses dispararam seus canhões. E o general Ariel Sharon, herói da guerra do Yom Kippur, vencida por Israel, admitiu que tremeu. Nem Sadat estava sendo atacado nem era medo o sentimento que acometia Sharon. Pela primeira vez, desde 1948, ano de criac,ao do Estado de Israel, um governante do país, no caso, o primeiro-ministro Menahem Begin, encontrava-se com um líder árabe para falar de paz.

A decisão do presidente egípcio, porém, estava longe de receber apoio unânime da comunidade árabe. Embora Sadat tenha defendido, em Israel, a criação de um Estado para os palestinos, a idéia de negociar com os judeus gerou reações violentas. Zuheir Moshen, líder do grupo As Saiqa,

facção síria da OLP, qualificou o presidente de traidor e conclamou: "Derramem seu sangue. Cuspam em sua face." A Síria decretou luto nacional; a Líbia anunciou que deixaria de reconhecer o governo de Sadat ; a Arábia Saudita , tradicionalmente o país mais moderado e pró-ocidental do mundo árabe, emitiu nota oficial contra a visita; e até mesmo dentro do governo egípcio houve oposição: o ministro das Relações Exteriores, Ismail Fhami, renunciou.

Houve protestos até na Índia, no Paquistão e em Bangladesh. Apenas a Jordânia pediu moderação, embora também criticasse a viagem de Sadat. Em Beirute, um foguete atingiu a embaixada do Egito, matando um guarda egípcio e ferindo quatro soldados sauditas. Em Atenas, a embaixada egípcia foi ocupada por 30 estudantes árabes. Repartições egípcias foram atacadas também em Damasco e Bagdá. Israel mobilizou milhares de homens, por temer um ataque suicida contra Sadat.

O convite para a visita partiu de Begin. Sadat retribuiu o gesto, pedindo ao primeiro-ministro que fosse ao Cairo. Mas, por via das dúvidas, enquanto o papa rezava pela paz, a Sexta Frota americana seguia para Alexandria. Sadat no entanto, tinha o apoio de suas Forças Armadas para tentar a paz. Ele propôs a Israel um plano bilateral de cinco pontos: desocupação dos territórios árabes, inclusive o setor oriental de Jerusalém; reconhecimento dos direitos dos palestinos, principalmente em relação à constituição de seu Estado; o direito de todos os países da região viverem em paz, com fronteiras seguras; compromisso dos Estados da região de não recorrerem a violência para solucionar conflitos; e proclamação do fim do estado de beligerância. Begin respondeu: "Tudo pode e deve ser negociado". Manifestou seu veto a criação de um Estado palestino, mas endossou o fim do estado de beligerância. Não seria tão fácil assim. O tratado com Israel foi assinado em 1979. Anwar Sadat morreu assassinado em 1981.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Ditador corrupto e antropófago

Em 4 de dezembro de 1977, um ex-sargento do Exército colonial francês, o marechal Jean Bedel Bokassa (1921-1996), presidente da República Centro-Africana, tornou-se o imperador Bokassa I, soberano da ex-colônia francesa, um dos mais pobres países do continente. A cerimônia custou US$ 30 milhões, pagos pelo então presidente Valery Giscard D'Estaing, e teve trilha sonora de tambores tribais e Mozart. Seu trono era uma águia de bronze de 4,5m de largura e 3,5m de altura, recoberta de ouro, pesando duas toneladas. Quando o imperador recebeu a coroa (de US$ 2 milhões) na capital, Bangui, seus súditos padeciam de uma renda per capita anual de US$ 250.

Bokassa tornara-se presidente em 1966, ao depor David Dacko; em 1972, proclamou-se vitalício no cargo e finalmente, em 1977, ascendeu ao trono que criou. Mas não sentou-se nele por muito tempo: em 1979, um golpe de Estado, apoiado pela França, restabeleceu a República e reconduziu Dacko ao poder. Caía um dos mais cruéis e corruptos ditadores da África moderna.

Entre as acusações contra Bokassa constavam enriquecimento ilícito (chegou a ter, na França, quatro castelos, um hotel, uma vila e um avião), prisões ilegais, detenção de crianças e conspirações para eliminar inimigos. As denúncias de seu ex-cozinheiro eram bem mais graves: Bokassa seria antropófago e apreciaria seus amigos e inimigos assados ao molho de vinagre apimentado. As denúncias estarreceram os franceses, povo que asilou o ditador por três anos. Era ainda acusado do massacre de crianças que se recusaram a usar uniforme escolar com a foto do imperador.

Os atos de Bokassa criaram um imenso constrangimento para Giscard D'Estaing, o qual admitiu ter recebido do ditador, que o chamava de "um parente muito querido", como presente, alguns diamantes. Segundo o presidente, as pedras teriam sido vendidas e o dinheiro doado a instituições de caridade. A história circulou em 1979, pouco depois da derrubada de Bokassa, quando ele estava asilado na Costa do Marfim (onde ficou de 1979 a 1983), e teve grande repercussão: em parte por conta dela, Giscard D'Estaing não se reelegeu em 1981. Mais tarde, em 1985, o ex-imperador causou problemas a Francois Miterrand, eleito presidente em 1981: exigiu que o governo francês pagasse suas contas (tinha 54 filhos de 15 esposas), alegando estar falido.

Em 1986, Bokassa deixou a França e voltou para Bangui. Preso, foi duas vezes condenado a morte, pena comutada para 20 anos de prisão. Quando morreu, em 1993, tinha cumprido cinco. Foi sepultado com honras oficiais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Polícia massacra líder sul-africano

Steve Biko incomodava o governo racista do país desde que fundara a Organização de Estudantes da África do Sul em 1969, com 22 anos de idade. Logo passava também a liderar o movimento Consciência Negra, sempre com o objetivo de combater por meios pacíficos o apartheid. Em 1972, quando estudava medicina na Universidade de Durban, foi expulso e confinado a viver—pena comum para os negros sul-africanos na época—num gueto na região de King Williamstown, Província do Cabo, com a mãe, a mulher e dois filhos.

Em 18 de agosto de 1977, Biko acabou detido em Port Elizabeth sob a acusação de ter saído do confinamento sem permissão. Os policiais Ihe aplicaram tratamento rotineiro: deixaram-no inteiramente nu e puseram algemas em suas mãos e grilhões nos pés, para "interrogatórios" que podiam durar cinco dias. Numa das sessões, segundo afirmaram depois seus carcereiros, as algemas e grilhões foram retirados, e o prisioneiro teria se tornado violento, atacando os guardas e se atirando contra as mesas e as paredes. Passados alguns dias, segundo a versão oficial, foi encontrado na cela espumando pela boca e balbuciando palavras incoerentes. Os policiais o teriam levado na traseira de uma caminhonete para Pretória, a 1.200 quilômetros, onde morreu, com lesões cerebrais e ferimentos pelo corpo, em 12 de setembro.

Era o 21° negro que morria em prisões sul-africanas num período de 18 meses. O premier John Vorstu, ainda as voltas com as conseqüências do levante de Soweto, no ano anterior, foi mais uma vez pressionado, dentro e fora do país, e ordenou uma investigação "rigorosa". O resultado não surpreendeu: um tribunal de Johanesburgo inocentou a polícia, aceitando até a hipótese de que Biko morrera debilitado por causa de uma greve de fome. As equimoses pelo corpo, as costelas quebradas e as evidências de violentas pancadas na cabeça foram desconsideradas

Apesar do esforço das autoridades para impedir manifestações de solidariedade a Biko, cerca de 20 mil pessoas compareceram ao seu funeral, dia 25 de setembro, em King WilliamsTown, inclusive diplomatas de vários países e parlamentares sul-africanos brancos. Dois anos depois, numa clara imputação de culpa, um tribunal de Pretória condenou o Governo a pagar indenização de US$ 78 mil à família de Biko. Mas nem assim o caso foi reaberto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Diva perdeu a voz, mas não a aura

A voz que a abandonou no auge da carreira, romances que nunca deram certo, o temperamento complicado e uma multidão de fãs no mundo inteiro. Os altos e baixos da vida de Maria Callas bem poderiam ser confundidos com os dramas das diversas musas que o soprano interpretou. Filha de imigrantes gregos, Callas nasceu em Nova York, cantou óperas— gênero italiano por excelência—e morreu em Paris, no dia 16 de setembro de 1977, aos 53 anos, de problemas cardíacos. O acesso a diferentes culturas ajudou a torná-la popular. principalmente nos anos 50, quando sua presença era sinônimo de casa lotada em Milão, Nova York, Londres ou Paris.

Seu repertório estendia-se por Wagner, Verdi, Puccini, Donizetti e muitos outros. A ópera preferida, no entanto, foi "Norma". de Bellini, interpretada 89 vezes. Tendo começado a estudar canto aos oito anos, Callas viajou com os pais para a Grécia, aos 13 anos, e começou a estudar no Conservatório de Atenas com o soprano espanhol Elvira de Hidalgo. Sua carreira profissional começou em 1941 e se intensificou na década seguinte, quando ela se consagrou combinando no palco a voz expressiva com um raro talento dramático. Então, a cantora já estava casada com o industrial italiano Giovanni Meneghini, 30 anos mais velho. Meneghini se tornou seu empresário, responsável, segundo alguns, pela agenda artística excessivamente cheia da esposa.

Meneghini apresentou Callas ao milionário grego Aristóteles Onassis em 1959. No mesmo ano, a bonita e esbelta cantora, que chegara a pesar 110 quilos no início da carreira, separou-se do marido e iniciou o namoro com Onassis. Foi quando começou a padecer dos problemas vocais que praticamente acabaram com sua carreira, só retomada esporadicamente e sem o mesmo brilho de antes. Seu último papel palco foi Tosca, em 1965. O namoro com Onassis, que nunca se transformou em casamento, acabou em 1968, deixando o milionário livre para iniciar o romance com a não menos famosa Jacqueline, ex-Kennedy. Callas teve então um confuso relacionamento com o diretor Pier Paolo Pasolini e estrelou seu filme "Medeia", de 1970. Nos últimos anos de vida, com uma agenda menos atribulada, dedicou-se ao ensino do canto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Linha de ônibus para o espaço

Preso a fuselagem de um Boeing 747 o ônibus espacial orbital Enterprise fez o primeiro vôo de teste no dia 12 de agosto de 1977, na Base Aérea de Edwards, na Califórnia. A 7.600m de altura, os dispositivos que mantinham o ônibus espacial—cujas dimensões são semelhantes ás de um DC-9—preso a fuselagem do Jumbo foram explodidos.

A partir de então, a nave de 76 toneladas planou durante cinco minutos, sob o comando dos astronautas Fred Haise (da fracassada Apollo XIII) e C. Gordon Fullerton, aterrissando no deserto de Mojave, numa pista construída em um lago seco. Antes desse teste, um primeiro vôo cativo (ou seja, preso a um Boeing 747), sem tripulantes, ocorrera em fevereiro do mesmo ano. Outros quatro vôos livres, sem a utilização das turbinas, seriam feitos, no Alabama, para testar a estrutura da nave.

Um marco nas pesquisas espaciais, o ônibus espacial era parte de um projeto de ponte aérea para o cosmos, inaugurando a era das naves não-descartáveis. Um feito que deixava a anos-luz os projetos anteriores. Segundo a Nasa, o ônibus orbital seria capaz de reduzir dramaticamente os custos das missões. Uma viagem a Lua sairia por 1% do custo original. O conserto e a colocação de satélites na órbita terrestre passariam a custar apenas um terço do valor da época. O programa viabilizaria também uma infinidade de pesquisas tecnológicas, biológicas, a construção de estações orbitais e até militares (a URSS temia o uso das naves na guerra e na desativação de seus satélites) a custos menores.

O transportador orbital e lançado como um foguete e aterrissa em aeroportos convencionais como um avião comum, podendo ser reutilizado cem vezes, segundo cálculos da Nasa, ao preço de US$ 20 milhões por vôo. Os foguetes também podem ser reaproveitados.

Apesar de tantos atrativos, o projeto Space Shuttle (literalmente, veículo que faz viagens de ida e volta no espaço) viu sua popularidade despencar e seus orçamentos minguarem a cada sucessão em Washington. A crise do petróleo e a inflação foram alguns dos fatores que solaparam as verbas para as pesquisas— segundo os inimigos do projeto, elevadas demais e de retorno incerto.

As diversas etapas do Space Shuttle sofreram muitos atrasos por conta disso. No entanto, em 12 de abril de 1981, exatamente 20 anos depois do histórico vôo de Yuri Cagarin, o primeiro homem a voar em órbita da Terra, um foguete acoplado a nave Colúmbia foi lançado na primeira missão do ônibus espacial. Acompanhado em terra por apenas 150 pessoas (contra as 500 necessárias no projeto Apollo), a Colúmbia passou dois dias no espaço e pousou no deserto de Mojave.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Separação não é o fim do mundo

"Antigamente, temas assim empolgantes eram tratados com mais vagar, mais pensamento, menos paixão", resumiu o deputado da Arena, mineiro e antidivorcista, Geraldo Freire, em junho. Ao longo de 1977, a discussão sobre a adoção do divórcio no Brasil se deu em meio a uma divisão da opinião publica, a oposição dogmática da Igreja Católica, interesses políticos de congressistas e especulações morais de todos os lados. Mais do que um debate sobre a votação de uma nova lei o que ocorreu foi um acalorado Emilinha x Marlene da liberdade pessoal. O final da disputa se deu em dezembro, com a sanção do presidente Ernesto Geisel à lei aprovada na Câmara e no Senado, e consagrou o senador Nelson Carneiro (MDB), que havia tomado o divórcio como sua bandeira política em 1951.

A intenção da lei do divórcio era acabar com a pesada carga de preconceito social sobre desquitados, separados ou amasiados, bem como garantir a legitimação dos filhos destes. Até 1977, havia o desquite, que dissolvia a sociedade conjugal perante a lei, separando cônjuges e seus bens, mas não rompendo os vínculos matrimoniais, o que impedia uma nova união. Não só o vínculo legal ficava mantido. No maior país católico do mundo, o casamento civil era habitualmente acompanhado do religioso, e a tese da indissolubilidade do matrimônio era defendida, a esquerda, pela CNBB (Conferencia Nacional de Bispos do Brasil) e , a direita, pela organização TFP (Tradição, Família e Propriedade).

O principal argumento contra a oposição religiosa ao projeto de Nelson Carneiro era o fato de que a Itália já adotava o divórcio legal desde 1970. Isso não impedia manifestações pouco ponderadas , como a do político mineiro Geraldo Freire, que ainda em 1975 previu punição divina—"caindo sob a forma de bombas atômicas"—em caso de aprovação da lei. Quando ocorreu a votação do divórcio, em 1977, os políticos estavam tão divididos quanto a população. Os congressistas das capitais, onde ocorriam os maiores índices de desquites e separações, votaram por seus eleitores pró-divórcio. Bastiões da moralidade, como a família mineira, eram radicalmente contra—o senador mineiro Gustavo Capanema justificou assim sua posição: "Meu coração é a favor, mas vou votar contra". A surpresa para os dois lados foi que, em 1978, o índice de pedidos de divórcio na maioria dos estados foi menor do que o número de desquites nos anos anteriores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

A vida segundo Woody Allen

Com um infeliz e inexato título em português, "Noivo neurótico, noiva nervosa", "Annie Hall" impulsionou a carreira de Woody Allen. O filme ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme, e Allen levou prêmios de melhor diretor e roteirista, este dividido com Marshall Brickman. Ou melhor, não levou. Ele não compareceu a premiação: idiossincrático, preferiu ficar tocando clarineta no Michael's Pub em Nova York, um de seus hábitos na época. Diane Keaton, protagonista do filme e então namorada de Allen, ganhou o Oscar de melhor atriz. O título original do filme é uma homenagem a ela nascida Diane Hall.

Allen, que já dirigia desde 1969, atingiria com 'Annie Hall" a maturidade como cineasta, ao contar uma história com fortes ingredientes autobiográficos, estilo ousado e completo domínio da narrativa cinematográfica. No filme ele interpreta o escritor cômico de TV Alvy Singer, um judeu inseguro e obcecado pela morte que se apaixona por uma bela e pretensiosa aspirante a cantora (Keaton). E a deixa para uma visão pessimista da neurose na sociedade urbana americana, repleta de observações críticas e um humor de inteligentes jogos verbais, com direito a algumas passagens hilariantes.

A partir de "Annie Hall", o cineasta, nascido Allan Stewart Konigsberg, em 1935, iria diversificar sua carreira, fosse homenageando seu ídolo, o diretor sueco Ingmar Bergman, em "Interiores" (1978), ou falando de paixões, como o rádio em "A Era do Radio" (1987) e o próprio cinema, em "A Rosa Purpura do Cairo" (1985). Mas os retratos da cosmopolita cidade natal de Allen, Nova York, e que se tornariam a marca de sua carreira, em filmes como "Manhattan" (1980), "Crimes e pecados" e um episódio para "Contos de Nova York" (ambos de 1989).

Allen seria indicado mais cinco vezes para o Oscar de melhor diretor e outras 11 para o de roteiro, categoria na qual ganharia sua terceira estatueta, com "Hannah e suas irmãs" (1986). Sua vida pessoal, que ele gostava de manter preservada, virou escândalo em 1992, quando veio a luz seu romance com a enteada de 21 anos, a coreana Soon-Yi Previn, filha adotiva da atriz Mia Farrow. Allen, que estava se separando de Farrow, companheira e atriz principal ao longo de dez anos, casou-se com Soon-Yi. Felizmente, a celeuma não Ihe afetou a produtividade e o brilho como diretor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977

Fundado o império de George Lucas

Com um orçamento de pouco mais de US$ 8 milhões "Guerra nas estrelas" revolucionou os efeitos especiais do cinema e a conta bancária do diretor George Lucas, então com 33 anos, que tinha direito a 40% da bilheteria recorde de mais de US$ 350 milhões só nos Estados Unidos. Lançada em maio de 1977, este capa-e-espada estelar, com heróis e vilões se enfrentando em pirotécnicas batalhas, lotou cinemas no mundo inteiro, numa época em que a tecnologia digital ainda engatinhava e o , computador só era usado para controlar o movimento das câmeras. Recusado pela United Artists e pela Universal, o filme, lançado pela Twentieth Century Fox, ganhou sete Oscars, entre eles o de melhor trilha sonora, composta por John Williams.

"Era uma vez, numa galáxia distante..." A história contada no início do filme e a do velho embate entre o Bem e o Mal. Apenas o capitão Han Solo (um Harrison Ford ainda sem fama), oscila entre os dois lados, compondo um personagem cínico e de personalidade vacilante. Já Luke Skywalker (Mark Hamill), Princesa Leia (Carrie Fischer) e Mestre Obi-wan Kenobi (Alec Guinness) são os bonzinhos defensores do universo ameaçado pelo poder da Estrela da Morte. O antológico vilão Darth Vader faz de tudo para impedi-los, com seu imenso poder e a sinistra voz emprestada por James Earl Jones, que dublou David Prowse, o ator que veste a armadura negra. A indumentária de Vader fez parte da parafernália vendida junto com o lançamento do filme, entre revistas, jogos e até espadas de laser, que no filme são pintadas com tinta fluorescente.

Darth Vader, assim como Obi-wan Kenobi e Luke Skywalker, faz parte dos Jedi, os cavaleiros que dominam a Força, um poder místico que da habilidades sobre-humanas aos seus possuidores. Enquanto Vader passou para o lado do Mal, Luke treina o controle da Força para combatê-lo. O filme e o episódio quatro de uma saga de três trilogias concebida pelo próprio Lucas, e teve as continuações "O Império contra-ataca" (1980) e "O retorno de Jedi" (1983). Versões mais modernas dos três filmes foram lançadas com sucesso em 1997, com o emprego de técnicas digitais em cópias restauradas e remasterizadas. Figuras exóticas como o sapo gigante Jabba, the Hutt, ganharam dimensões mais assustadoras.

A tecnologia foi fundamental para transformar "A ameaça fantasma"—quarto filme em ordem de lançamento, mas a primeira aventura da primeira trilogia, no esquema de Lucas —num fenômeno de popularidade em 1999. Prevêem-se continuações em 2002 e 2005.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1977 

O fascínio de um passado brutal

Em 1976, o escritor negro Alex Haley, cujo maior feito até então tinha sido colaborar com Malcolm X em sua famosa biografia, tornou-se um fenômeno literário. Seu livro "Ratzes" foi um sucesso imediato de vendas, primeiro nos Estados Unidos e depois mundo afora, e rendeu ao autor o prêmio Pulitzer. Em 1977, o fenômeno multiplicou-se na tela da TV. Foram oito noites seguidas em que 130 milhões de americanos—metade dos habitantes do país —não tiravam os olhos de seus aparelhos de televisão, sintonizados na rede ABC. Compromissos eram antecipados ou adiados, discotecas abriam mais tarde, cinemas ficavam as moscas, só porque não se podia perder nenhum dos oito capítulos de hora e meia da minissérie "Raízes" ("Roots"), levados ao ar de 23 a 30 de janeiro de 1977.

A produção de US$ 6 milhões faturou seis prêmios Emmy, o Oscar da televisão americana, e garantiu a subida da ABC do terceiro para o primeiro lugar de audiência. A série mostrava pela primeira vez aos americanos de todo o país como havia sido brutal a escravidão a que os brancos submeteram os negros durante séculos. E mais: provava que o negro e tão americano quanto o branco e participou na mesma medida da construção dos Estados Unidos. Uma pesquisa feita logo após a exibição da série revelou que a maioria da população americana—brancos, negros ou de qualquer outra etnia—sentia tristeza e vergonha por já haver existido escravidão.

Haley pesquisou por 12 anos para contar em "Roots" a história de Kunta Kinte, um suposto antepassado seu que foi aprisionado em 1767, aos 17 anos, numa aldeia africana, e levado para os Estados Unidos como escravo. A saga termina em 1867, com o mestre-ferreiro Thomas Murray, bisavo de Haley, se radicando no Tennessee, já como homem livre.

O novato LeVar Burton interpretava o jovem Kunta Kinte. De resto havia nomes famosos: Louis Cossett Jr., Lloyd Bridges, Vic Morrow, Ben Vereen, Chuck Connors, Burl Ives, Maya Angelou, Ralph Waite, O.J. Simpson, James Earl Jones e Edward Asner. "Raizes" teve quatro diretores: Marvin Chomsky, John Erman, David Greene e Cibert Moses. Quincy Jones e Gerald Fried fizeram a trilha sonora. A série foi veiculada no Brasil em maio de 1979, também com sucesso.

Fonte: O Globo - Texto integral