Em 1971 as principais manchetes foram estas:

Surge a chave da informática: o microprocessador

Bangladesh fica independente

Um monstro com jeito de palhaço

Novas medidas salvam o dólar

A máquina que vê o cérebro humano

Decola o zepelim de chumbo inglês

Quatro rodas na superfície da Lua

Um futuro para a violência urbana

A mulher que vestiu o século XX
O bailarino dos socos e pontapés

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1971

Surge a chave da informática: o microprocessador

Primeiro o homem criou a válvula. Depois, o transistor. A década de 60 trouxe o circuito integrado que, no início dos anos 70 foi transformado por Ted Hoff no microprocessador. O ano era, precisamente, 1971, e a autoria da invenção foi partilhada por Hoff com outros três fundadores da Intel—Bob Noyce, Gordon Moore e Anclrew Grove—passando a integrar assim os registros da História.

O Intel 4004 nasceu no dia 15 de novembro de 1971, com 4 bits, freqüência de operação de 108KHz e 2.300 transistores, mas já embalado pela Lei de Moore, aquela segundo a qual a quantidade de transistores integrados nos chips de silício dobraria a cada ano. Era um fracote, se comparado com o mais novo membro da família Intel, o Pentium 111, com 32/64 bits, freqüência de operação de 600MHz e 9,5 milhões de transistores. Trazia, como grande inovação, a inclusão numa única superfície de toda a lógica necessária a construção de um computador. O que, na pratica, só foi realizado três anos depois.
O maior feito do precursor dos microprocessadores foi controlar a sonda Pioneer X, lançada em 1972 para ir além dos limites do sistema solar. Seu sucessor direto não teve muita serventia. Só em 1974 foi possível começar a pensar em aplicações comerciais para eles, com a chegada do 8080, da Intel, usado no primeiro computador pessoal, o Altair. Também neste ano apareceram os Motorola 6800, que equiparam muitos dos micros da Apple. O ano de 1976 marcou a entrada no mercado dos TRS-80. Mas a grande revolução da micro-informática só aconteceu em 1979, com os processadores 8086 e 8088, que junto com o sistema operacional MS-DOS, da Microsoft, permitiram a criação do padrão IBM PC.

O que fez dos microprocessadores peças chave do desenvolvimento tecnológico? Por que razão esse desenvolvimento permanece até hoje quase que exclusivamente ligado ao avanço da eletrônica? A resposta mais simples e óbvia é o fato de terem permitido a criação dos computadores pessoais. Na verdade, a grande revolução dos microprocessadores foi ter levado inteligência aonde se julgava impossível. Foi fazer objetos tomarem decisões, automaticamente, por meio da decodificação e da execução de instruções de cálculo aritmético ou de lógica do tipo SE isto for verdadeiro, ENTAO proceda assim.

Resultado: os microprocessadores passaram a ser não só os cérebros dos nossos computadores pessoais como também das nossas calculadoras, câmeras fotográficas, relógios de pulso, telefones e televisores. O controle automático do termostato do microondas do abrir e fechar das portas dos elevadores e do consumo de combustível dos automóveis seria muito mais difícil sem eles. E esses são apenas alguns exemplos de um rol infinito de facilidades da vida moderna intimamente ligadas a micro-eletrônica. Quanto mais os microprocessadores diminuem de tamanho e diversificam seus componentes, mais ganham funcionalidade.

Se vários especialistas fossem consultados para apontar a característica mais marcante da micro-eletrônica, falariam, com certeza, da obsessão por atender a Lei de Moore. Fazer dela mais do que um palpite passageiro transformou-se na mola mestra da indústria. Tanto que, ainda hoje, todas as previsões de evolução da chamada tecnologia da informação permanecem fundamentadas na certeza inabalável de que o poder de processamento dos chips manterá o ritmo vertiginoso desses primeiros 28 anos. Sempre que possível, extrapolando a taxa de crescimento anterior. Hoje, o poder já não dobra a cada dois anos, mas a cada ano e meio (18 meses).

Vale de tudo para não desviar a indústria do seu caminho natural: combinar ou substituir materiais, mudar processos de fabricação e o que mais for necessário para vencer o grande obstáculo de aumentar o número e a diversidade de transistores em cada chip. A miniaturização anda ajudando a criar transistores menores. O raio X deve substituir a litografia ótica na "arte exata" de desenhar trilhas nos waffers, trilhas que, mais tarde, serão revestidas de metais semicondutores como o germânio e o cobre, atuais parceiros e/ou substitutos do silício, por permitirem maior aproximação dos componentes no circuito. Modernas tecnologias de encapsulamento, como a SMD (Surface Mount Devices), da National Semicondutores, também estão ajudando a por quatro chips onde antes cabiam apenas dois.

As técnicas de projeto vem sendo aperfeiçoadas tendo como meta a criação de circuitos que permitam o processamento cada vez mais rápido de pilhas de instruções sempre maiores e mais complexas. Foram responsáveis, por exemplo, pela criação dos processadores superescalares, como os Pentium, capazes de processar várias instruções simultaneamente. E antes, pelo surgimento do chip RISC (Reduced Instruction Set Computer).

Completando a história, a década de 80 foi caracterizada pelo desenvolvimento do microprocessador e pela evolução dos microcomputadores, cada vez menores e mais poderosos. A de 90, pelo desejo da indústria dos semicondutores de transformar os microprocessadores em algo realmente invisível aos olhos. De preferencia, totalmente integrados ao nosso corpo. Em Israel, a Gen-Etics já vende microchips—os sky eyes (olhos do céu)—usados para localizar pessoas. Feitos de fibra sintética e orgânica, são implantados sob a pele e alimentados pela energia do próprio corpo humano. Nos Estados Unidos já apareceram em laboratório os primeiros microprocessadores feitos com neurônios e silício. Não deixam de ser excelentes sinalizadores do que nos reserva o futuro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Bangladesh fica independente

Desde que foi criado, em 1947—como resultado do mesmo processo que libertou a Índia do domínio britânico—o Paquistão nunca teve unidade, a começar pela própria divisão do território, cortado ao meio pelo gigantesco vizinho. Província do nordeste, o Paquistão Oriental ficava a mais de 1.600 km do resto do país e o fato de a maioria de seus habitantes ser muçulmana não era suficiente para unir os bengalis do leste aos punjabes do oeste. As duas metades eram habitadas por diferentes etnias, que falavam línguas distintas e tinham como único ponto de contato a religião. Os conflitos chegaram ao auge em 1971, levando o Paquistão Oriental a se proclamar Estado independente com o nome de República Popular de Bengala—ou Bangladesh.
Seis vezes maior e bem mais rico, o Paquistão Ocidental era sede de todo o poder político e empresarial da República, enquanto o Oriental sofria com chuvas torrenciais, inundações, ciclones e maremotos, uma agricultura pobre, quase nenhum investimento do governo e reduzido acesso aos melhores empregos públicos. Foi nesse contexto que o xeque Mujibur Rahman—líder bengali considerado "perigoso" pelo Governo paquistanês e que já somava dez anos de prisão desde 1948—levou a Liga Auami, partido oposicionista, a vencer as primeiras eleições gerais convocadas no país: das 313 cadeiras do Parlamento, a Liga conquistou 167 em 1970.

Mas o ditador do Paquistão, Agha Muhammad Yahya Khan, não permitiu que a Assembléia se instalasse e que Mujibur se tornasse primeiro-ministro. Em vez disso, prendeu o líder e mandou as tropas reprimirem a revolta que explodiu no Paquistão Oriental. Cerca de dois milhões de bengalis foram massacrados, outros dez milhões se refugiaram na Índia. Em abril de 1971, o substituto de Mujibur na Liga Auami, Zia-ur Rahman, exilado em Calcutá, proclamou a independência da região e o nascimento de Bangladesh ("Nação Bengali" no idioma local), com capital em Dacca.Yahya aumentou a repressão e certamente esmagaria a nascente república se, em dezembro, não cometesse a suprema insensatez de hombardear oito bases aereas da india—um um inimigo bem mais poderoso do que a sofrida Bangladesh. Era a terceira guerra entre Índia e Paquistão desde 1948. Os indianos se aliaram a nova república e novamente derrotam os paquistaneses.

No dia 6 de dezembro de 1971, a Índia reconheceu oficialmente a existência de uma nação bengali. Quinze dias depois, com a rendição incondicional das tropas de Yahya Khan, Mujibur Rahman saiu da prisão e assumiu o governo da República Popular de Bangladesh. No entanto, o Paquistão só viria a reconhecer o novo país em 1974.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Um monstro com jeito de palhaço

Uganda, no centro-leste africano, tornou-se independente da Grã-Bretanha em 1962, mas pouco se ouvia falar a seu respeito até que, em 25 de janeiro de 1971, o comandante do Exército, general Idi Amin Dada, deu um golpe e arrebatou o poder de Milton Obote, o principal líder da luta pela independência do país. Idi Amin, que acusava Obote de corrupção, tribalismo e favorecimento dos ricos em detrimento dos pobres, prometeu eleições livres e a libertação de presos políticos. Mas em 20 de fevereiro mostrou outro comportamento: promoveu-se ao mais alto posto do generalato e nomeou-se presidente. Com o apoio dos companheiros golpistas, declarou ser necessário ficar no poder por cinco anos antes de haver eleições "num clima de tranqüilidade e respeito mútuo". Suspendeu o estado de emergência imposto por Obote, mas as atividades políticas permaneceram proibidas.

Antigo campeão nacional dos pesos pesados e jogador de rugbi, com 1,92m de altura e 120kg, Idi Amin Dada nasceu em Koboko, provavelmente em 1925, na pequena tribo dos kakawa, serviu ao exército colonial inglês, lutou na Birmânia na Segunda Guerra Mundial e contra os rebeldes do Quênia na década de 50. Na luta pela independência de Uganda, era um dos principais conselheiros militares do então primeiro-ministro Milton Obote.

Truculento, autoritário, centralizador, vingativo, alternando tirania com falsa gentileza. de vez em quando até sagaz, o megalômano ditador, que contava com orgulho ter comido carne humana, não perdoou nem os auxiliares mais próximos. Dos ministros originais de seu Governo, cinco foram assassinados e seis fugiram do país. Entre cem mil e 300 mil ugandenses foram torturados ou assassinados em sua gestão; 70 mil asiáticos foram expulsos, num duro golpe para a economia de Uganda.
O bufão Idi Amin dizia conversar com Deus; queria construir um monumento em homenagem a Hitler; dava conselhos a Nixon; criou o Fundo Ugandense para Salvar a Inglaterra; sugeriu mudar a sede da ONU para Kampala, capital de Uganda e "centro geográfico do mundo"; ofereceu-se para tomar o lugar da rainha Elizabeth na Comunidade Britânica. Deposto por rebeldes ugandenses, com o auxílio de tropas da Tanzânia, em abril de 1979, fugiu para a Líbia. Depois foi viver modestamente na Arábia Saudita, as custas do governo local.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Novas medidas salvam o dólar

Bem que o economista John Maynard Keynes tentara evitar, desde os primeiros entendimentos para o acordo de Bretton Woods— formalizado pouco depois de sua morte, em 1946—que o padrão-ouro lastreasse o sistema financeiro internacional. Keynes achava que o ouro era uma "relíquia dos bárbaros" e deveria ser abolido, mas perdeu a batalha. Por uma ironia do destino, os Estados Unidos, que fizeram valer sua posição no acordo para a continuidade do padrão-ouro, foram os responsáveis por sua extinção, em 1971.

Um país tem padrão-ouro quando sua moeda é definida por lei como sendo uma quantidade fixa de ouro, na qual ela possa ser convertida, a qualquer momento, no próprio país ou no exterior. Isso estava escrito, por exemplo, nas antigas cédulas brasileiras e nas da maior parte dos países. Em 1971, alguns deles já usavam versões modificadas do padrão-ouro. O metal só era usado mesmo nos pagamentos internacionais.

Desde a metade de 1970 até meados de 1971, o presidente americano Richard Nixon enfrentava graves problemas econômicos: inflação de 5,2%, e crescendo, taxa de desemprego de 5%, imensos déficits na balança de pagamentos e na balança comercial. A Guerra do Vietnã ainda consumia excessivos recursos e os parceiros comerciais dos Estados Unidos estavam preocupados porque os muitos dólares perdidos pelos americanos eram despejados sobre suas economias, criando uma expansão da moeda. Ou seja, o país estava exportando inflação.

Pressionado internacionalmente, o ortodoxo Nixon teve de abandonar suas convicções econômicas de não-intervenção e adotar medidas duras. Escolheu uma noite de domingo, 15 de agosto de 1971, para anunciar pela televisão várias mudanças. A principal era que o dólar não seria mais conversível em ouro.

O mundo inteiro sabia há muito tempo que os Estados Unidos não possuíam ouro suficiente para resgatar todos os dólares em poder dos estrangeiros, mas ouvir isso num pronunciamento oficial do presidente era inquietante Estava declarada a impossibilidade de manter o acordo responsável pelo sistema monetário internacional. Por 25 anos, os países capitalistas viveram acreditando que a relação entre o ouro e o dólar era inabalável.

A Nova Política Econômica—este foi o nome do programa lançado por Nixon em 15 de agosto—ainda previa uma sobretaxa de 10% nas importações, corte na ajuda externa, congelamento interno de preços e salários e redução do imposto de consumo sobre os automóveis. O dólar continuou a flutuar, em declínio diante de moedas mais fortes como o iene japonês e o marco alemão. A situação econômica do país se regularizaria no início de 1973, mas o padrão ouro estava descartado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

A máquina que vê o cérebro humano

Apresentada em 1971, a tomografia computadorizada é considerada uma das mais importantes invenções para auxiliar a medicina no diagnóstico de doenças desde a descoberta do ralo X, em 1895, pelo físico alemão Wilhelm Rontgen. A tecnologia permitiu aos médicos observar pela primeira vez tecidos do cérebro (e posteriormente de outras partes do corpo) sem necessidade de cirurgia. O primeiro tomógrafo foi desenvolvido pelo matemático e físico inglês Codfrey Hounsfield, que trabalhava na EMI, empresa com forte tradição no mercado da música. Na mesma época, o americano Allan Connack, da Tufts University, em Massachusetts, produziu tecnologia similar. Ambos receberam em 1979 o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta.

As pesquisas de Hounsfield começaram em 1968, quando ouviu as queixas de um radiologista amigo sobre a qualidade das radiografias tiradas de cérebros que diariamente tinha de observar. Segundo o radiologista, por mais que modulasse o poder dos raios e aumentasse os filtros, o organismo retransmitia sempre uma luminosidade incoerente, tornando menos nítidas as imagens. Interessado em achar uma resposta para o problema, o cientista passou os três anos seguintes pesquisando nos laboratórios da EMI, onde aproveitou o potencial de três tecnologias existentes: um feixe de raio X, um vídeo e um computador.
O primeiro tomógrafo foi construído para examinar o crânio, com ênfase especial nas doenças do cérebro. Com o aparelho, os radiologistas podiam distinguir o sangue normal dos coágulos e examinar os ventrículos que sustentam os fluidos da medula cerebral. Antes, o paciente tinha de se submeter ao doloroso exame no qual era necessário jogar ar dentro dos ventrículos para fazer contraste, ativando assim a leitura do raio X. Além da precisão no diagnóstico, o invento permitiu a realização de cirurgias muito mais profundas e menos traumáticas para os pacientes. Com a tomografia, tornou-se possível fazer ainda o mapeamento do código genético do corpo.

Embora custasse cerca de US$ 500 mil, o aparelho foi um sucesso comercial e logo surgiram versões nas quais o paciente podia passar longos períodos deitado em uma espécie de caixão cilíndrico, ampliando as possibilidades de diagnóstico da tomografia computadorizada para todo o corpo. Com ela, tornou-se viável detectar tumores em formação e hemorragias incipientes, cujo tratamento muitas vezes só é possível quando existe um diagnóstico precoce.

A tomografia computadorizada também pôs um fim a época em que, diante de um traumatismo craniano, os médicos tinham de esperar o agravamento dos sintomas clínicos para intervir. Além disso, os efeitos do tratamento de tumores, por exemplo, podem ser acompanhados passo a passo, visualmente, o que aumenta sua eficácia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Decola o zepelim de chumbo inglês

"Esse grupo vai voar tanto quanto um zepelim de chumbo", a profecia de Keith Moon, o sarcástico baterista do grupo The Who, não se concretizou mas serviu para batizar o grupo de Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (voz), John-Paul Jones (baixo e teclados) e John "Bonzo" Bonham (bateria). O nome nascido da piada, Led Zeppelin, conseguiu traduzir a perfeição o som inovador que misturava o pesado da eletricidade com a leveza do acústico. E a música que, por sua vez, melhor traduziu esse som, conduzindo o grupo inglês ao estrelato foi "Stairway to heaven" ("Escadaria para o paraíso"), gravada em 1971.

Espécie de épico esotérico, a canção começa leve, folk, na voz e no violão, mas vai progressivamente encorpando, encorpando até explodir num solo selvagem de guitarra, sustentado por baixo e bateria. Assim, ela proporcionava aos membros do Led Zeppelin a oportunidade de demonstrar toda a sua mestria técnica, ainda que, no caso de Plant, o instrumento consistisse "apenas" de suas cordas vocais. Melhor ainda, seu talento era potencializado pelo jogo de equipe, num pequeno milagre que, a falta de melhor palavra, é freqüentemente chamado de "química".

O grupo nasceu de uma dissidência do lendário e instável Yardbirds. Page conheceu seu guitarrista, Jeff Beck, num estúdio e, em 1966, estava tocando com a banda, depois de uma briga envolvendo Beck, o cantor Keith Relf e o baixista Paul Samwell-Smith. Mas logo Jeff Beck e Page se engalfinharam numa disputa pelo posto de solista. Com o fim dos Yardbirds, Jimmy recrutou músicos para o seu novo projeto. batizado inicialmente como The New Yardbirds. No ano seguinte, 1969, o recém-nascido Led Zeppelin já demonstrava maturidade suficiente para lançar o disco de estreia. O repertório reunia uma poderosa combinação de blues e rock, que incluía uma versão para "You shook me", do bluesman americano Willie Dixon. Essa combinação viria a ser batizada, não muito tempo depois, como "heavy metal", metal pesado.

Antes de 1969 terminar, o Led Zeppelin lançaria ainda um segundo disco, dessa vez puxado pelas suas próprias composições, como "Whole lotta love" e "Thank you". O terceiro álbum, de 1970, soaria mais acústico, mais folk, mais delicado. E "Led Zeppelin IV", de 1971 incluiria o hino geracional "Stairway to heaven". Em 25 de setembro de 1980, o baterista John Bonham morreu, depois de uma maratona de 40 doses de vodca. Era o fim da banda que simbolizou o início dos anos 70.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Quatro rodas na superfície da Lua

Em julho de 1971, a Apollo XV pousou na Lua equipada com uma novidade: um jipe lunar para ajudar na exploração do satélite No dia 13 de novembro do mesmo ano, os olhos do homem chegaram a Marte quando a sonda espacial americana Mariner IX tornou-se o primeiro objeto feito por mãos humanas a entrar na órbita d'outro planeta que não a Terra. As duas conquistas científicas acabaram colaborando para o fim do interesse popular pela corrida espacial. Naquele início de década de 70, e apenas dois anos depois do primeiro passo na Lua, passear pelo espaço tinha se tornado algo corriqueiro.

Os astronautas da Apollo XV, David Scott e James Irwin, foram, respectivamente, o sétimo e o oitavo a caminhar na Lua, e os primeiros a dirigir por lá. Passearam com o jipe durante 18 horas, cruzando uma extensão de 28 quilômetros ao pé do Monte Hadley. Deixaram um instrumento para transmitir dados sobre o campo magnético e gravitacional e procurar campos de energia no ambiente lunar. No ano seguinte, as Apollos XVI e XVII encerrariam o circuito Terra-Lua.

As conquistas da Mariner IX foram muito mais importantes em termos científicos. Durante um ano, a sonda enviou mais de sete mil fotografias, mapeando 85% da superfície marciana. Quando terminou seu trabalho, estava claro que jamais existiram os célebres "canais de Marte", um mito posto em circulação, em 1906, pelo astrônomo americano Percival Lowell, que os acreditava construídos por seres inteligentes.

Em compensação, a Mariner IX revelou a existência de um gigantesco canion de milhares de quilômetros de comprimento, logo batizado de Valles Marineris. Dez vezes maior e quatro vezes mais profundo que o Grand Canyon americano, o canion marciano foi produzido pelos violentos processos erosivos que atingiram o planeta no passado. Nas fotos da Mariner apareceram ainda quatro grandes vulcões, o maior deles, batizado de Monte Olimpus, com 24 quilômetros de altura e 400 quilômetros de base.

Em 1976, duas naves Viking, americanas, desceram no solo marciano e colheram os primeiros dados diretos sobre sua superfície e atmosfera. A primeira sonda operou até 1982, a segunda até 1980. Em 1988, a então URSS enviou duas sondas, que pararam de funcionar após o envio de poucos dados. Apesar do detalhado mapeamento da Mariner IX, Marte ainda não revelou todos os seus segredos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

Um futuro para a violência urbana

O filme "Laranja mecânica" ("A clockwork orange", 1971), escrito e dirigido por Stanley Kubrick, insinuava que psicologia e prisão servem para reprimir e não para regenerar o ser humano. Baseado no romance de Anthony Burgess, o filme conta a história de Alex (Malcolm McDowell), um delinqüente que pensa em três coisas na vida: estupro, violência e Beethoven. Depois de barbarizar as ruas de Londres, ele é preso e submetido a um tratamento de reintegração com base na lavagem cerebral. Resultado: quando ganha a liberdade, Alex passa de algoz a vítima. Apesar de ser considerada uma metáfora futurista, a obra de Kubrick anunciou um futuro bem mais próximo do que seu filme anterior, "2001: Uma odisséia no espaço", lançado em 1968. Talvez por conta disso, sua estréia foi cercada por polêmica. Aquele futuro bizarro é habitado por personagens incomodamente realistas.

Sem ter nada melhor para fazer a noite, Alex sai com três companheiros para trocar sopapos com uma gangue rival. Mas a pancadaria é só aperitivo em seguida o grupo invade a casa de um escritor esquerdista, destrói todos os seus móveis e violenta sua esposa. No final, Alex chuta o dono da casa como na inocente coreografia de Gene Kelly em "Cantando na chuva". Mas os dias de farra estão contados: depois de matar uma colecionadora de arte erótica com uma imensa escultura em forma de falo, Alex é preso e condenado a 14 anos de prisão.

Na cadeia, a técnica para recuperar presidiários através de condicionamento segue mecanismos tão detestáveis quanto os utilizados por Alex em seus dias mais inspirados. Com as pálpebras retidas por um aparelho, ele é obrigado a assistir a filmes de extrema violência e submetido a intermináveis sessões de choque elétrico. Em duas semanas, ele já não parece ser o mesmo. Exorcizado de seus impulsos agressivos, é devolvido a liberdade. No entanto, o universo de "Laranja mecânica" transformou Alex em um homem desprovido de vontade própria, levando a crer que o preço da estabilidade social é o fim da liberdade individual. Incomodado com sexo e violência, o ex-delinqüente está despreparado para enfrentar a lei da selva e vira presa fácil de suas vítimas do passado.

Assim que entrou em cartaz nos EUA, o filme dividiu a opinião pública. No Brasil, vetado pela censura, permaneceu nas prateleiras da Warner até 1978. Quando foi lançado, as cenas de nudez apareciam descaracterizadas por estratégicas—e ridículas—bolinhas pretas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

A mulher que vestiu o século XX

Que livrou a mulher da anquinha e do espartilho, inventou o cabelo curto, estabeleceu que pele bronzeada é sinal de saúde e beleza, lançou e tornou um sucesso o uso de bijuterias, industrializou o perfume que por muito tempo foi o mais vendido do mundo e ainda é o mais famoso? A resposta é Coco Chanel, a estilista francesa que revolucionou a história da moda. Quando ela morreu, em 10 de janeiro de 1971, aos 87 anos de idade e ainda trabalhando muito, chegavam ao fim quase 60 anos de domínio no reino da alta-costura.

Coco, aliás Gabrielle Bonheur Chanel, nasceu em Saumur em agosto de 1883. De sua infância sabe-se pouco: ficou órfã aos seis anos e foi criada por duas tias de modesta situação econômica. Elas costumavam presenteá-la com toscas bonecas nuas que a menina, com alma de modista, tentava vestir com os retalhos que conseguia. No fim do século, foi morar com o avô em Vichy, onde deve ter aprendido a costurar e a confeccionar chapéus.

Em 1913, a bela e magra Gabrielle abriu uma pequena chapelaria em Deauville, elegante balneário no Canal da Mancha. Inimiga das anquinhas, espartilhos e cintas que davam a toda mulher traseiro arrebitado, busto saliente e cintura apertadíssima, logo começou a produzir blusas, saias e vestidos soltos e esportivos, que fizeram sucesso entre as grã-finas. Abusava do jérsei, tecido barato até então só utilizado em roupas íntimas masculinas. Depois da Primeira Guerra, foi para Paris e inaugurou a maison da Rua Cambon E vieram os simples e despojados chemisieres, cardigãs, calças boca-de-sino e o "pretinho". Em 1921, industrializou o Chanel n° 5—do qual Marilyn Monroe dizia vestir apenas duas gotas como pijama—e ficou rica.

No fim da década de 20, montou no seu salão uma butique para vender bolsas, cintos, lenços e bijuterias de fabricação própria, antes de passar uma temporada em Hollywood desenhando roupas. Fechou a maison em 1939: com a Segunda Guerra batendo a porta, ninguém estava interessado em moda.

Os anos 40 foram ruins para Coco. Aos 60 anos, tinha uma rara coleção de ex-amores— Jean Cocteau, Stravinsky, Picasso e Samuel Goldwin, o da Metro, entre outros—mas seu suposto romance com um oficial nazista durante a ocupação da França custou-lhe caro. Acusada de colaboracionismo, passou a ser ignorada depois da guerra. Só conseguiu dar a volta por cima em 1954, ao relançar seu célebre tailleurzinho. As europeizas detestaram. As americanas adoraram, e usam até hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1971

O bailarino dos socos e pontapés

Em 1971, um ator baixo e delgado deu o violento pontapé inicial da união entre cinema e as artes marciais. Naquele ano, Lee Jun Fan, mais conhecido como Bruce Lee, estrelou seu primeiro filme, "O dragão chinês", uma produção de Hong-Kong que rendeu US$ 12 milhões, a maior bilheteria do cinema locai até então, e que seria superada no ano seguinte por "A fúria do dragão", segunda parceria do astro com o produtor Raymond Chow.

Bruce Lee nasceu na Califórnia, em 1940, foi criado em Hong-Kong, onde aprendeu artes marciais e dramáticas, tentou carreira em Hollywood e voltou a Hong-Kong para se tornar, mais do que astro, mito e ícone do cinema. Nos anos 60, tentando fazer carreira nos Estados Unidos, se formou em filosofia enquanto criava coreografias de lutas para filmes, dava aulas para astros como Steve McQueen e James Coburn e fazia pequenos papeis em cinema e TV.

Mas sua única oportunidade de mostrar em telas americanas toda a habilidade de ator-lutador foi quando William Dozier, produtor da série de TV "Batman", o escalou como o motorista Kato no seriado "Besouro Verde". Bruce se mostrou um dínamo numa série monótona que só durou o ano de 1966. Apesar de bem estabelecido como professor de artes marciais, a carreira artística em Hollywood não rendeu até o fim da década. A gota d’água teria sido a escolha de David Carradine em seu lugar para estrelar a série "Kung fu", que ajudou a desenvolver.

Ao voltar para Hong Kong no inicio dos anos 70, Bruce Lee descobriu que tinha se tornado famoso com "Besouro Verde", a ponto de a série ter sido rebatizada lá de "The Kato show". Raymond Chow capitalizou essa popularidade nos filmes citados acima, que atraíram a atenção de Hollywood. Em 1973, foi lançado "Operação dragão", co-producao de EUA e Hong-Kong, o marco definitivo do filme de pancadaria. A forte presença de cena de Bruce Lee e sua habilidade para coreografar rápidas e elaboradas cenas de luta o tornaram um ídolo. Sua morte envolta em mistério, de edema cerebral, em 1973, durante as filmagens de "Jogo da morte", o tornaram um mito.

Fonte: O Globo - Texto integral